Tecidos conjuntivos X fáscias. É tudo a mesma coisa?
Nos últimos anos venho acompanhando algumas discussões sobre esse tema e fico bastante intrigada como o assunto se tornou uma imensa confusão…
A Biologia Tecidual (um up grade da Histologia) sempre nos ajuda nesse momento.
Fato é, que toda fáscia é tecido conjuntivo, mas nem todo tecido conjuntivo é fáscia.
Para entender melhor isso, vamos lembrar um pouco sobre o que são tecidos conjuntivos.
Os tecidos conjuntivos são divididos em: Conjuntivo propriamente dito e conjuntivos especiais. Cada tecido tem sua estrutura própria, de acordo com sua função.
Os especiais são o adiposo, cartilaginoso, ósseo e hematopoiético.
O propriamente dito – que nos interessa aqui, é dividido em frouxo e denso (este ainda com a subclassificação em modelado e não modelado).
E é aí justamente que está a grande confusão.
Até pouco tempo (nos livros de histologia e anatomia ainda são), as fáscias eram classificadas como aponeuroses – formadas por tecido conjuntivo denso modelado, que é caracterizado por uma grande quantidade de fibras, todas em uma mesma direção – assim como os tendões. Porém, com o avanço das pesquisas, observou-se que as fibras de algumas fáscias não estão em uma única direção. Há fibras em várias direções – o que a caracterizaria como tecido conjuntivo denso (pela presença de muitas fibras) não modelado (por ser em várias direções).
Anatomicamente (a “bíblia” da anatomia da fascia, o livro da Carla Stecco) é bem clara quando mostra a divisão entre o que é a fascia e o que são os tecidos conjuntivos frouxos que as envolvem e a todas as outras estruturas.
A confusão aconteceu quando começaram a definir a fáscia como “todo tecido conjuntivo” – a fáscia é muito fibrosa e não se encaixa nas características do tecido conjuntivo frouxo.
Nos eventos que abordam o tema “fáscia” a confusão se torna ainda maior, porque se considera a fáscia como um “sistema de transmissão de forças” e incluem em sua definição vários outros tipos teciduais, como os nervos por exemplo.
Fato é que estruturalmente é muito clara a divisão entre os tipos teciduais e é óbvio também que não há como separar os tecidos quando falamos em função, em movimento. Está tudo absolutamente interligado e tudo que fazemos como abordagens terapêuticas afeta TODAS as estruturas.
Durante nossa avaliação clínica, quando sentimos uma “densidade aumentada” nos tecidos subcutâneos, com falta de mobilidade, estamos sentindo todos os tecidos, não somente as fáscias! Não é possível ao toque definirmos que “estamos palpando as fáscias”. O que sentimos é o tecido conjuntivo como um todo. Quando percebemos mudanças imediatas na mobilidade/flexibilidade e na densidade é na verdade o tecido conjuntivo frouxo, que está adjacente tanto nos músculos como em todas as camadas fasciais, para cumprir suas funções de hidratação/nutrição/defesa/sustentação para os tecidos. O que é bastante importante uma vez que densidades aumentadas nos tecidos frouxos prejudicam a troca metabólica e com isso alteram as condições funcionais adequadas de todos os tecidos adjacentes.São os tecidos conjuntivos frouxos que permitem o deslizamento entre as interfaces teciduais e assim favorecem o movimento. E sim, é ele o nosso interstício. Ele envolve absolutamente todos os outros tecidos, como músculos nervos e articulações…
É importante lembrar também, que além de células e matriz extracelular, também temos presente no tecido conjuntivo toda a parte de inervação. Muitas das respostas palpáveis e imediatas à terapia manual ocorrem por ação do tecido nervoso, que está presente em vários lugares, na pele, nas articulações e sim, também nas fáscias, mas não somente nelas….
É preciso avaliar o que está envolvido em cada situação, pois em patologias/traumas musculoesqueléticos por exemplo, a fáscia sozinha não muda muita coisa, tanto que conceitos antes puramente passivos hoje estão agregando movimento ao tratamento, como nos trilhos anatômicos de Tom Myers, que hoje é dinâmico. Robert Schleip também defende que o movimento ativo é imprescindível para a abordagem terapêutica das miofáscias. É preciso ação neuromuscular. É preciso movimento. O movimento é a principal questão. E fazem parte do movimento TODAS as estuturas, TODOS os tecidos…
Generalizar é sempre perigoso, principalmente quando estamos tratando de estruturas de alta complexidade como o corpo humano. É preciso conhecer vários tipos de abordagens para escolher (e até associar técnicas) a melhor e mais efetiva opção para cada paciente.
Espero ter ajudado a esclarecer um pouco essa diferença.
Abraços!
Mari
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